IDENTIDADE E MEMÓRIA NA CONSTRUÇÃO NARRATIVA CONTEMPORÂNEA: uma leitura de Canção para ninar menino grande, de Conceição Evaristo

Maria Eloísa de Souza Ivan, Larissa Alice Assemção, Maria Julia Freitas Rodrigues

Resumo


A Literatura Brasileira contemporânea tem revelado autores de grande valor estético- literário, o que se confirma pelas indicações dessas obras nas listas de vestibulares das universidades brasileiras mais renomadas e tradicionais e, dentro desse contexto, destaca-se a obra Canção para ninar menino grande, de Conceição Evaristo. Suas primeiras obras publicadas foram Ponciá Vicêncio (2003), Becos da memória (2006), Poemas de recordação e outros movimentos (2008), seguidas de outras mais recentes: Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), Olhos d’água (2014), Histórias de leves enganos e parecenças (2016) e Canção para ninar menino grande (2018). Enquanto discentes do curso de Letras, e futuras professoras, que tem como um dos objetivos formar leitores críticos, definiu-se pela obra dessa autora, mais especificamente, o livro Canção para ninar menino grande (2018), como corpus desta pesquisa, não apenas porque ele passou a figurar nas listas dos vestibulares, mas também porque, apesar dos vários prêmios já recebidos pela autora, sua obra é ainda pouco estudada no contexto acadêmico, se comparada aos clássicos, mesmo que a autora tenha recebido merecida atenção e destaque nos últimos anos. Desse modo, dizemos que o propósito desta pesquisa é apresentar um estudo acerca das categorias narrativas, aliado aos conceitos de identidade e memória, destacando-se os efeitos de sentido criados por esse discurso a partir da organização estética dessa narrativa contemporânea. O livro conta a história de Fio Jasmim, o atraente rapaz negro que carrega uma frustração: a de não ter podido representar o papel de príncipe na escola por ser negro. A função principal desse homem é fecundar as mulheres, gerar filhos em moças bem-criadas, todas com nome e sobrenome de famílias. Neide Paranhos da Silva, cujo filho é concebido na época de frutos cheirosos como laranjas; Pérola Maria, que Fio Jasmim escolheu como mulher no civil e no religioso e que dele esperava apenas a garantia de engravidar; Juventina Maria Perpétua, para quem homens “não passavam de meninos grandes, que viviam agarrados às saias das mulheres em busca de proteção”, e outras que são apresentadas no decorrer da pesquisa. Assim, o objetivo desta pesquisa é o de verificar, por meio de uma leitura interpretativa, como essas categorias narrativas, com ênfase na construção da personagem, estruturam formas, significados e sentidos na extensão diegética da obra acima referenciada, aliados aos conceitos de identidade e memória. Dito isso, buscamos responder aos seguintes questionamentos: como se constitui o discurso literário, principalmente dentro de um contexto de tradição e renovação que caracteriza a narrativa contemporânea, considerando aqui a segunda metade do século XX e o século XXI? Quais os mecanismos de construção estética da obra Canção para ninar menino grande (2018), enfatizando-se os conceitos de identidade e memória, além da construção da personagem Fio Jasmim e das personagens femininas, com ênfase em Tina e Eleonora? Como se constitui o conceito de escrevivência dentro da poética evaristiana? A fim de se alcançar o objetivo propostos, adotou-se, como procedimento metodológico uma pesquisa de abordagem bibliográfica, subsidiada em leituras de textos teóricos e ensaísticos de autores como Bakhtin (2019), Borges (2010), Candido (1997, 1995, 2023), Camargo (2018), Chevalier (2009), Gancho (2004), Moisés (2001, 2004), Leite (2006), Lukács (2000), Nogueira-Pretti (2020), Picolo (2016), Reis e Lopes (2002), Reuter (2004), Silva (2016), Soares (1993), entre outras fontes.

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