O EMBAIXADOR E O DESGRAÇADO: análise comparativa entre Astro Boy, de Osamu Tezuka, e Frankenstein, de Mary Shelley

Resumo

Este estudo contempla uma análise comparativa entre duas obras que, em suas particularidades, retém notória importância e influência: o romance inglês Frankenstein, ou O Prometeu Moderno, de Mary Shelley (1818), e a série de mangás Astro Boy (originalmente Mighty Atom), por Osamu Tezuka (1952-1968). Esta iniciativa se deve pela interessante convergência temática em suas premissas: o criador (pai), cego pela ambição e egoísmo, fabrica sua criatura (filho) e a concebe a centelha da vida, arrependendo-se, em sequência, de seu ato irremediável. Esta análise objetiva explorar aspectos histórico-culturais de seus respectivos meios de produção, bem como seu impacto no âmbito literário e midiático, e, em especial, aspectos discursivos e dialógicos, principalmente estilísticos, entre o gênero romance e o gênero história em quadrinhos de tradição japonesa – o mangá –, bem como um aspecto central comum entre ambas as obras: a composição de representações alegóricas do ato de discriminação que empregam o arquétipo prometeico do “sopro da vida”, sobretudo quanto às distinções entre a discriminação primariamente ontológica e sociológica em paralelo com as atitudes combativas tomadas pelas figuras discriminadas. Quanto às teorias e metodologias selecionadas para fundamentar esta pesquisa, elegemos as reflexões do Círculo de Mikhail Bakhtin (1997) e de seus comentadores, Brait (2005) e Fiorin (2016) no que concerne gêneros do discurso, dialogismo e estilo. Referente ao gênero HQ (História em Quadrinhos), pautamo-nos nos estudos de Cirne (1970), Schodt (1997) e Ramos (2009). Por fim, usufruímos dos trabalhos de MacDonald & Scherf (2012) e Schodt (2007) relativos à vida e obra de Mary Shelley e Osamu Tezuka.