DESLOCAMENTO E SILÊNCIO: tempo e espaço em O lustre, de Clarice Lispector

Resumo

O estudo da Literatura, arte da palavra, sempre se mostra como subsídio fecundo e esclarecedor para o reconhecimento de quem fomos e de quem somos, enquanto seres complexos e aprendizes. Dentro dessa perspectiva, a obra clariciana revela-se essencial para o encontro do nosso “eu” com o mais profundo da condição humana, fato que se experimenta também na leitura de O lustre. Iniciado em março de 1943, mas publicado somente três anos depois, ele é o segundo e um dos menos conhecidos e estudados romances de Clarice Lispector; a obra, por meio do viés psicológico e introspectivo, próprio do fazer literário clariciano, propõe, pela materialidade da palavra, reflexões acerca da condição humana e nos provoca a questionar nossa existência no mundo. Posto isso, dizemos que nos sentimos motivados a continuar pelas veredas da palavra clariciana, buscando reconhecer e oferecer novos olhares, outras leituras, para esta poética que se destaca pela experimentação estética e a exploração da palavra em suas potencialidades existentes. Assim, o objetivo principal deste trabalho é verificar, por meio de uma leitura interpretativa e analítica, os efeitos de sentido criados pelo discurso clariciano, na obra O lustre (1946), privilegiando-se um estudo acerca do espaço e do tempo como elementos estruturantes e condutores desta narrativa. Para além desse propósito, apresentamos, ainda, um sucinto panorama acerca da construção do romance moderno, orientando-nos tanto pelas reflexões de Mikhail Bakhtin, quanto pelas de Anatol Rosenfeld, completando-se essa abordagem com as considerações de J.Y. Tadié (1994) acerca da narrativa poética. Também uma contextualização da autora Clarice Lispector, bem como da obra O lustre (1946), foram contempladas. A fim de alcançar o objetivo proposto, adotamos, como procedimento metodológico, uma pesquisa de abordagem bibliográfica, que está fundamentada em leituras de textos teóricos ou ensaísticos de autores como Bosi (1994), Candido e Castello (2005) Candido (1977; 2003),Gotlib (1995), Ivan (2015), Nunes (1995), Sá (2000), Santos (2008), para falar da vida e obra da autora. Concernente à construção do romance moderno e narrativa poética, subsidiaram nossos apontamentos as reflexões Mikhail Bakhtin (2019), Anatol Rosenfeld (1996), J.Y. Tadié (1994) e Antônio D. Pires (2006). Finalmente, para tratar da conceituação de tempo, espaço e do cronotopo no romance moderno foram utilizadas as reflexões deBakhtin (2019), Dimas (2001), Nunes (1995b) e Reis e Lopes (1988). Faz-se necessário dizer que outras fontes foram utilizadas na medida em que iluminaram as discussões propostas pela pesquisa.