MEU CORPO, MINHAS REGRAS: análise discursiva sobre a polêmica envolvendo a história “Dentuça, eu?”, da Turma da Mônica Jovem

Resumo

Em 2016, a edição 94 da Turma da Mônica Jovem trouxe a história “Dentuça, eu?”, cujo tema é o medo de Mônica em usar aparelho ortodôntico devido a uma forte dor de cabeça que pode ser motivada pelos seus incisivos proeminentes. Em determinada parte do enredo, Mônica não aguenta a pressão dos amigos sobre a decisão que deve tomar e lança a fala “Meu corpo, minhas regras! Podem discutir e debater até cansar, mas a decisão final é apenas minha!”. Como marketing promocional, a página oficial da Turma da Mônica Jovem publicou no Facebook, de maneira descontextualizada, a imagem em que Mônica diz o bordão. Diante disso, Olavo de Carvalho e outros inúmeros internautas comentaram sobre a postagem, alegando que aquele era um discurso que fazia apologia ao aborto. O objetivo do nosso trabalho, portanto, é analisar os possíveis discursos feministas presentes no gibi Turma da Mônica Jovem, em especial a edição n. 94 e as polêmicas criadas a partir de uma postagem de parte da história e, portanto, descontextualizada, feita por Olavo de Carvalho. Também intentamos compreender os valores sociais, ideologias e axiologias veiculadas na história e nos comentários dos internautas. Para tanto, buscamos responder aos seguintes questionamentos: Como se constitui a identidade feminina nos quadrinhos da Turma da Mônica Jovem? Quais são os valores sociais, ideologias e axiologias veiculadas nas HQs e nos comentários dos internautas a partir da polêmica provocada pela publicação no Facebook por Olavo de Carvalho? Como é a constituição do gênero HQs? Como as mídias sociais dialogam com discursos de maneira fragmentada e inadequada? Como os internautas leem as publicações em mídias sociais como Facebook, Twitter e/ou Instagram?Para tanto, o referencial teórico utilizado são as reflexões do Círculo de Bakhtin acerca dos conceitos de gêneros do discurso e ideologia, assim como seus comentadores como Faraco (2009) e (2013), Fiorin (2006), Machado (2016) e Miotello (2016). Sobre o gênero HQ, utilizamos os estudos de Mendonça (2005) e Ramos (2009) e acerca do gênero Mangá, os estudos de Carlos (2009). Sobre o feminismo, pautamo-nos nas pesquisas de Alves e Pitanguy (1895), Gomes e Sorj (2014), Heywood (2010) e Miguel (2014). Verificamos, assim, que um enunciado descontextualizado pode conceber diversas interpretações e, dessa forma, dá margem para diferentes inferências dos internautas, o que causou a polêmica. “Meu corpo, minhas regras” é um enunciado que, nutrido de valores sociais e ideologias,de um lado, no discurso feminista, dá força para ser mulher e ampara os direitos do gênero, sendo expressão de liberdade corporal para a defesa do aborto, de outro lado, no contexto da história da Turma da Monica Jovem, refere-se tão somente à decisão de colocar um aparelho ortodôntico.