O CAMINHO (PER)CORRIDO DOS MATERIAIS DIDÁTICOS: trabalhando os gêneros discursivos

Resumo

A escola deve se preocupar com a função social do aluno e em formá-lo como cidadão. Para isso, é necessário desenvolver a capacidade analítica do indivíduo no contexto em que ele está inserido, contextualizando o ensino-aprendizagem com as circunstâncias por ele vivenciada, trazendo uma reflexão que lhe permita desenvolver seu senso-crítico. Dessa forma, o livro didático, apesar de ter sido desenvolvido com o intuito de se tornar um instrumento de ensino, ou seja, um material de apoio para o professor e o aluno, transformou-se em um material generalista, pois apresenta, na maioria das vezes, assuntos de interesses gerais, assim como abordagens pouco contextualizadas. O objetivo deste trabalho, portanto, é analisar comparativamente o livro didático Português: linguagens de Cereja e Magalhães e o Caderno do Aluno da Secretaria do Estado de São Paulo, a fim de verificar se algum desses materiais se aproxima das propostas do Círculo de Mikhail Bakhtin sobre gêneros discursivos. Para tanto, utilizamos como referencial teórico-metodológico as reflexões do Círculo de Bakhtin, sobre enunciados concretos como constituintes dos gêneros do discurso, assim como de seus comentadores, entre eles, Fiorin (2006), Brait (2005) e Machado (2005), e os estudos sobre o ensino de Língua Portuguesa e livro didático, a partir da perspectiva de Marcuschi (2005), Bezerra (2005), Britto (1997), Savioli (1997), Buzen (2005) e Mendonça (2007). O corpus de nossa pesquisa é constituído de fragmentos de atividades e de textos verbais e não verbais, presentes em unidades das duas obras em análise e que contemplam os conteúdos exigidos pela Grade Curricular do Estado de São Paulo. Como resultado, verificamos que a perspectiva bakhtiniana sobre gêneros do discurso aparece nos dois materiais analisados, embora, em especial no Caderno do Aluno, são tratados como gêneros textuais, evidenciando que seu estudo ainda se encontra atrelado, em muitas situações, aos aspectos formais, desconsiderando os valores sociais e ideológicos que constituem todo enunciado concreto. Enfim, é necessário avançar na busca de um ensino efetivo sobre leitura e produção de gêneros discursivos, principalmente levando em consideração a heterogeneidade das relações humanas e, por conseguinte, a diversidade cultural, social, ideológica e intelectual de nossos estudantes.