TORNAR-SE MULHER OU SER BELA, RECATADA E DO LAR? Uma análise discursiva

Resumo

A avaliação do ENEM tem a proposta de avaliar os estudantes do Ensino Médio e, no ano de 2015, na prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias, uma das questões era sobre a filósofa Simone de Beauvoir, que dedicou seus estudos a respeito da imagem da mulher na sociedade. Contudo, a pergunta foi questionada por alguns por ser considerada uma forma de doutrinação e comemorada por outros como uma valorização da figura feminina. No ano seguinte, o artigo intitulado “Bela, recatada e do lar”, publicado pela revista Veja sobre a vice-primeira dama Marcela Temer, também gerou grande polêmica, tendo em vista que postulou que a mulher, ao contrário dos ideias feministas, deve seguir determinados padrões, como ser bela, recatada e do lar, para então ser considerada respeitável pelos padrões sociais. Diante disso, várias pessoas, principalmente no meio virtual, revidaram e contestaram, com tom crítico e humorístico, a postura machista da revista por meio de enunciados verbais e visuais, a fim de mostrarem que esses ideais já não são tão valorizados como a revista postulou. O objetivo desta pesquisa, portanto, é traçar um panorama da identidade feminina construída pela mídia a partir das polêmicas desencadeadas pela prova do ENEM, em 2015, sobre Simone de Beauvoir e pelo artigo da Revista Veja sobre Marcela Temer. Para tanto, buscamos responder às seguintes questões: como é a construção da identidade feminina feita pela mídia e pelos comentários dos internautas? Como são feitas as escolhas verbo-visuais desses enunciados? Quais os valores sociais e ideologias veiculadas? Há um confronto discursivo entre as ideias femininas e conservadoras? O referencial teórico-metodológico deste trabalho, portanto, são os estudos do Círculo de Bakhtin acerca dos conceitos de gêneros do discurso, dialogismo, ideologia e enunciado concreto, assim como seus comentadores como Brait (2005), Discini (2010), Faraco (2003) e (2013), Fiorin (2006), Machado (2005), Marchezan (2006) e Miotello (2005). Para a discussão sobre o percurso histórico da mulher na sociedade, utilizamos os postulados de Alves (2003), Confortin (2003), Pires (2003), Orsini (2003) e Sgarbieri (2003). Verificamos, enfim, que a mulher sempre buscou ser vista com igualdade na sociedade, contudo discursos que veiculam ideologias machistas e patriarcais ainda são contemplados no meio midiático. Os embates ideológicos nos mostram que hoje, diferente do passado, há maneiras de se posicionar por meio de uma diversidade de enunciados a fim de valorizar e romper com ideias estereotipadas.