O PERCURSO DA PUBLICIDADE NA INDÚSTRIA TABAGISTA BRASILEIRA: ANÁLISE DIALÓGICA DAS PROPAGANDAS DE CIGARROS

Resumo

A partir dos nossos estudos acerca dos gêneros do discurso, seguindo os postulados do Círculo de Mikhail Bakhtin, trazemos, nesta pesquisa, algumas reflexões e análises, voltadas particularmente ao gênero publicitário, com ênfase na construção discursiva dos anúncios publicitários das marcas de cigarros e dos discursos veiculados pela empresa Souza Cruz, de modo a observar os recursos empregados pelo enunciador, de modo a manter a visibilidade de sua marca e a fidelidade de seus consumidores de acordo com a sociedade de cada época. Analisamos os recursos linguísticos verbais e não-verbais, e os estilos, escolhidos pelo enunciador para compor os enunciados da indústria tabagista e obter o êxito das grandes publicidades de cigarro, de forma a atingir, positivamente, seu enunciatário. Posteriormente, analisamos a reviravolta sofrida pelo setor, por conta da lei que proíbe a veiculação de anúncios publicitários da indústria tabagista em veículos de massa. Assim, observamos como se posiciona o enunciador e de que forma seu enunciado se mantém diante desse novo enunciatário, conhecedor dos malefícios do produto enunciado. O(s) conteúdo(s) temático(s), o estilo e a construção composicional, assim como os valores sociais e ideológicos empregados nesses discursos, foram por nós analisados para compreender como que, a partir dessas escolhas, o enunciador prevê seu enunciatário e quais são os valores veiculados junto às publicidades do produto. O corpus desta pesquisa constitui-se de publicidades impressas e de discursos e contradiscursos, veiculados nos anúncios publicitários e nos enunciados apresentados no site da empresa Souza Cruz, líder do mercado nacional na fabricação e distribuição de cigarros. Com base nas reflexões do Círculo de Mikhail Bakhtin sobre gêneros do discurso e dialogismo, e com as contribuições de estudiosos da linguagem e do discurso como Brait (2012), Marchezan (2006) e Fiorin (2006), observamos os caminhos percorridos pelo enunciador com a finalidade de alcançar uma atitude responsiva positiva de seu enunciatário. Para maior compreensão da construção composicional do gênero publicitário, recorremos aos estudos de Baudrillard (2000), Campos-Toscano (2008) e Reboul (1975). Observamos que a publicidade de cigarros, embora atualmente restrita, encontra em outros enunciados uma maneira de se proteger e de manter diálogo com seu público consumidor. O discurso da Souza Cruz reforça a ideia de que fumar é um hábito comum e que a empresa apenas exerce o papel de facilitadora de um desejo humano.