QUE BOM TE VER VIVA: vozes da resistência feminina na Ditadura Militar brasileira

Resumo

Neste trabalho de conclusão de curso, propomos investigar e analisar a constituição do discurso feminino sobre a tortura na ditadura militar brasileira. Elegemos como objeto de investigação o documentário Que bom te ver viva, filme produzido em 1989, dirigido por Lúcia Murat. No filme, ex-presas políticas da ditadura militar brasileira analisam como puderam enfrentar as torturas e prisões; relatam as situações e como sobreviveram a esse período, em que delírios e fantasias são recorrentes. O filme intercala cenas documentais com um monólogo ficcional, que é um amálgama dos relatos e das memórias dessas corajosas mulheres. Para a análise do corpus, partimos dos pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso de linha francesa, com bases nos estudos de Jacqueline Authier-Revuz, Michel Pechêux e Michel Foucault. Na análise, procuramos descrever e interpretar como se constrói o discurso feminino de resistência sobre censura e tortura, considerando-se os contrapontos que se estabelecem entre o discurso político e os discursos sobre censura e tortura, não apenas com base em depoimentos, mas também em documentos oficiais, sobretudo o Ato Institucional nº 5, que vigorou entre 1968 e 1978. Embora o objeto de estudo se enquadre em um gênero discursivo sincrético, em que recursos verbais e não-verbais organizam-se para compor um todo de sentido, desenvolvemos a análise proposta a partir da materialidade linguística, isto é, de transcrições de falas de personagens que se apresentam no filme.