GOSTO AMARGO DO RIO DOCE: UMA ANÁLISE DE DISCURSOS JORNALÍSTICOS E ARTÍSTICO-LITERÁRIOS

Resumo

O desastre em Mariana-MG, que ocorreu em novembro de 2015, obteve grande repercussão midiática, visto que foi uma das maiores tragédias ambientais do Brasil. A esfera jornalística, que tem como objetivo informar com veracidade os fatos do dia-a-dia, foi o principal veiculo de notícias da tragédia, tratando do ocorrido sob diversas perspectivas. Porém, na circulação dos discursos, há enunciados de outras esferas que, por apresentarem o mesmo conteúdo temático, dialogam com o meio jornalístico. Assim, a partir dessas observações, o objetivo de nossa pesquisa é compreender como são construídos os discursos jornalísticos e artístico-literários que têm como conteúdo temático o desastre ambiental, assim como analisar os efeitos de sentidos produzidos por meio de escolhas linguísticas e visuais, compreendidas como o estilo, atreladas à estrutura composicional, que constituem o todo dos enunciados. Para isso, o corpus dessa pesquisa é composto por três artigos jornalísticos publicados na revista Época, no jornal Folha de São Paulo e no site da BBC, duas fotografias, e a canção “Cacimba de Mágoa”, de composição de Gabriel, o Pensador e o grupo Falamansa. Como referencial teórico-metodológico, utilizamos as reflexões sobre gêneros do discurso e dialogismo do Círculo de Mikhail Bakhtin, assim como de seus comentadores, entre eles, Machado (2007), Brait (2007), Discini (2010), Marquezan (2006) e Fiorin (2006). A respeito dos gêneros jornalísticos, utilizamos os estudos de Rossi (2005), Seixas (2003) e Lage (2008). Como resultado da pesquisa, podemos afirmar que os gêneros jornalísticos constroem os sentidos ora expressando um tom emotivo-valorativo mais subjetivo provocando emocionalmente o enunciatário, ora expondo dados estatísticos e apresentando estudos científicos e comparações, entre outros fatos, a fim de veicular a ideia de objetividade, porém, deixando vestígios de opinião por meio das escolhas linguísticas do enunciador. As fotografias reiteram o impacto causado pelo desastre por meio dos recursos visuais, evidenciando a expressividade com um tom emotivo-valorativo de desolação e destruição intensificado. Por fim, o gênero canção, pertencente à esfera artístico-literária, explora o tema tanto de maneira informativa quanto emocional, construindo um efeito de subjetividade e aproximando, dessa maneira, o enunciador com seu enunciatário.