DA CRÍTICA AO CÔMICO: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DO CAIPIRA

Resumo

O caipira é visto, comumente, como um homem rústico, sertanejo, iletrado, pobre que não se inclui nas estruturas da cidade moderna, tendo uma cultura específica. Também, muitas vezes, é definido como um sujeito abobalhado, desconfiado, preguiçoso que não sabe se vestir direito e muito menos falar. Nesse contexto, verificamos a necessidade de compreendermos essas construções discursivas a respeito da imagem do caipira. Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar a construção da identidade do caipira nos discursos de Monteiro Lobato a partir da figura do Jeca Tatu, no cinema por meio do filme Jeca Tatu, de Mazzaropi e, por fim, o personagem criado por Maurício de Sousa na HQs da Turma do Chico Bento. Assim, nosso problema de pesquisa é compreender como se constrói a identidade discursiva de cada personagem, quais as aproximações e os distanciamentos entre os moradores da zona rural, assim como, suas ideologias e as vozes sociais veiculadas nos discursos provenientes de gêneros diversos. Utilizamos como referencial teórico-metodológico O Círculo de Mikhail Bakhtin sobre gêneros do discurso, ideologia, enunciação e enunciado concreto, assim como os estudos de seus comentadores, entre eles, Brait (2008) sobre a concepção de estilo e Miotello (2008) sobre ideologia. A respeito da cultura caipira, utilizamos os estudos de Yatsuda (2003), de Lajolo (2000) sobre a vida e a obra de Monteiro Lobato e, por fim, de Bueno (1999) acerca de Mazzaropi caracterizado como Jeca Tatu no cinema. Como corpus de nossa pesquisa, escolhemos o conto Urupês de Monteiro Lobato, o filme Jeca Tatu de Amácio Mazzaropi e a HQ, Chico Bento em Privilégios da Cidade, criada por Maurício de Sousa. Verificamos que nos gêneros do discurso escolhidos para a análise, a imagem do caipira se constrói de maneira diferente. No conto Urupês, a figura do Jeca Tatu foi construída de forma crítica, chegando a ser comparado a um animal. Já no cinema, Mazzaropi explora o lado cômico e humorístico do personagem, caracterizando-o como símbolo do atraso econômico do país. Na HQ, vemos que a configuração do Chico Bento é constituída de maneira diferente, apresentando um caipira que vai à escola e preserva o meio ambiente.